Skip to main content

Teatro da Rainha: O ESTRANHO CORPO DA OBRA

04.10.2012

quinta-feira, 0:00

“OS ENCENADORES ESTÃO ENCURRALADOS
Os encenadores estão encurralados no canto do fundo à esquerda de um enorme quadrado negro de tinta. O texto explicativo diz “isto transmite a tensão do teatro” – mas esta massa negra rodeando as três cabeças humanas não será antes um dispositivo para iludir a insignificância do quadro e portanto do pintor?

O escritor fica muito satisfeito consigo próprio quando pensa nestas coisas. Começa a fazer mentalmente uma lista do que é impossível agora: o retrato pintado (como é óbvio), a peça bem-feita (hilariante), o gesto radical (Oh, a sério?), empenhamento político (ha ha ha!). Quantos mais exemplos de impossibilidades e falhanços ele descobre, mais contente fica. Quanto mais sangue derramado, quanto mais morte (já agora, ele teve sempre razão acerca desta guerra), quanto mais caos, quanto mais terror. Quanto mais má-fé, quanto mais mau sexo, quanto pior a arte. Fantástico! E agora, a coroar tudo, este suposto “retrato” dos encenadores a serem despejados dos seus confortáveis teatros para o canto de um quadrado escuro. Isto só pode confirmar os seus piores receios – que foram sempre o que ele mais desejou na vida.”

In prefácio V2 (Quatro pensamentos indesejados) de Martin Crimp, Faber&Faber


Ficha Artistica
AUTOR Martin Crimp
ENCENAÇÃO Fernando Mora Ramos
TRADUÇÃO Paulo Eduardo Carvalho
DRAMATURGIA e TRADUÇÃO do PREFÁCIO ao V2 (Quatro pensamentos indesejados) Isabel Lopes
MÚSICA Carlos Alberto Augusto ILUMINAÇÃO Carina Galante
INTERPRETAÇÃO Isabel Lopes, Mariana Reis, Carlos Borges e Paulo Calatré