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Exposição "Tambor" de Manuel Taraio

01.12.2018

sábado, 16:00

Exposição patente de 01 de Dezembro  a 10 de Fevereiro
Inauguração da Exposição: 01 de Dezembro, às 16h00



 Exposição "Tambor" de Manuel Taraio

Tambor

Nascido em Coimbra em 1956, Manuel Taraio fez a sua formação em pintura pela Escola de Belas Artes de Bordéus, desenvolvendo o seu trabalho durante cerca de 3 décadas nas Caldas da Rainha, onde vivia e tinha atelier, até à sua morte há dez anos atrás. Esta exposição integra obras que foram selecionadas em coleções da sua família e que, compreendendo os principais momentos da sua produção artística, são, por outro lado, obras que resultam, por via dessa ligação, de uma escolha essencialmente afectiva e emocional. Não tem pretensões de ser retrospectiva nem sequer antológica, é antes o resultado de um gosto pessoal, se quiserem, do meu olhar sobre o seu. Bem diferente da que comissariei para a extinta Galeria Osíris, em 2007, realizada com trabalhos desse ano e que se intitulava “Páginas de Viagem”.

Uma das características que sempre me despertou atenção na sua pintura foi a enorme paixão pela sua história e por alguns dos seus grandes intérpretes. Na sua obra podemos perceber, de forma mais subtil ou declarada, referências a alguns dos grandes mestres da história da pintura. Velasquez é uma dessas referências fundamentais na sua obra, sendo que “Las Meninas” é um tema que abordou várias vezes. Mas também a arte dos primitivos flamengos e do proto-Ranascimento italiano é evocada em várias obras, embora aqui não de forma tão literal como em Velasquez, antes na construção da própria estrutura da composição. A acção desenvolve-se num primeiro plano, remetendo para um plano de fundo pequenos detalhes de narrativas complementares que acentuam a tridimensionalidade da composição e onde a linha do horizonte é concebida através do recurso a tonalidades mais claras e à utilização de velaturas, por oposição às cores fortes e empastamentos do plano da acção. Esses recursos “clássicos” são integrados com outros próprios da pintura moderna e contemporânea, como sejam a geometria, o gesto, a fragmentação da narrativa, a introdução de valores expressivos de um universo pessoal, criando um todo que se nos apresenta como um cosmos criativo único e irrepetível.

Não deixa de ser surpreendente a fase que antecedeu a sua morte, em que observamos uma transformação na sua pintura. A série Douro é notavelmente diferente das pinturas anteriores. A paleta deixa os tons ocres e vermelhos vibrantes para tons mais sombrios, feitos de verdes e cinzentos. A camada cromática é mais diluída, deixando amiúde espaços de tela em branco e o gesto é mais solto e livre, assumindo um valor expressivo fundamental. Não há primeiro plano de acção e não existem personagens, é o retrato de um rio majestoso numa paisagem avassaladora e despojada. Para além de especular se essa mudança teve um lado premonitório, dado o seu estado de saúde, interessa-me muito mais assinalar o facto de Manuel Taraio ter sido pintor até ao fim, procurando incansavelmente cumprir com a sua missão enquanto artista, trabalhando diariamente no atelier para criar as suas pinturas enquanto tal lhe fosse possível.

 “Ele adorava esse tambor”, diz-me Celeste, quando lhe perguntei porque razão o tinha entre os seus objectos pessoais. Há objectos que nos causam um fascínio que é muitas vezes inexplicável. Este tambor tem um carácter festivo, evocado pelas cores garridas (que o pintor usou várias vezes nas suas composições) que é icónico da cultura popular que amiúde retratou. Mas também tem um lado solene e misterioso. O seu rufar tem um apelo a que não conseguimos permanecer indiferentes, ficando como que suspenso no tempo e no espaço, chamando-nos desde longe. É também assim a pintura de Manuel Taraio, popular e simultaneamente misteriosa, suspensa no tempo e no espaço, convocando-nos à sua presença para que a possamos olhar, permitindo-nos aceder a uma experiência sensorial, íntima e singular que as palavras não abarcam pois elas são fraco instrumento para exprimir valores que são de outra natureza.


José Antunes

Centro de Artes | CMCR

 

Inauguração da Exposição: 01 de Dezembro, às 16h00