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Todas as idades

6 Abr. 18:00

"NOVE CAPAS PARA O ZECA"

Entrada Livre
Exposição patente na Galeria CCC de 6 a 28 de Abril 2023

Nove Capas para o Zeca

Um trabalho memorável, imaginativo e arrojado, quando José Santa-Bárbara perguntava a José Afonso qual a ideia que tinha para a capa, a resposta era: “Tu é que sabes, lê os poemas…”, a inspiração funcionava e basta olhar a concepção desses trabalhos e de imediato percebemos a ruptura com esses tempos cinzentos em que as capas dos discos na sua maioria apresentavam fotos do artista em pose, ou seja, a capa e o seu trabalho gráfico, passaram a fazer parte das canções e da sua mensagem, provocando e interagindo com o nosso imaginário.

Muitas são as histórias sobre a colaboração de Santa-Bárbara com José Afonso. A capa de Traz Outro Amigo Também tem, entre os retratos antigos, um de Zeca com um dedo à frente. “Fizemos essas fotos numa máquina de photomaton, em Alvalade. O Zeca lá se sentou, mas os óculos estavam sempre a descair-lhe do nariz, e a Zélia, sua mulher, teve de os endireitar”. Em Eu Vou Ser Como a Toupeira, a figura do animal foi retirada de um dicionário ilustrado: José Santa-Bárbara leu no dicionário que “toupeira é a pessoa que trabalha para subverter as instituições” e reproduziu a frase na capa, ora em tempos da ditadura, espantosamente, a censura nada fez, estava distraída.

Nesta exposição encontramos as provas de cor do álbum Cantigas do Maio, o desenho de Cantares do Andarilho, textos dactilografados com muitas emendas que deram origem às fichas técnicas de alguns dos discos, fotografias tiradas por Patrick Ullmann durante as gravações de Cantigas do Maio, em França, uma delas histórica, José Afonso, José Mário Branco e Francisco Fanhais pisam a gravilha do jardim do estúdio: estavam a gravar os passos imortalizados no tema Grândola Vila Morena.

Santa-Bárbara, Capista de Zeca - foi assim que Fernando Assis Pacheco (jornalista, escritor), apelidou José Santa-Bárbara num artigo escrito no Jornal Musicalíssimo em Novembro de 1972.


Curadoria: Abel Rosa
Design: João Morais

José Santa-Bárbara

José Santa-Bárbara nasceu em Lisboa a 28 de Outubro de 1936. Designer e artista plástico. Frequentou o Liceu Camões em Lisboa. O seu intenso percurso académico inclui: Curso de cerâmica da Escola de Artes Decorativas António Arroio onde é aluno de Abel Manta; Curso de escultura da Escola de Belas-Artes de Lisboa (1955-1960); Frequenta o curso de cenografia do Conservatório Nacional de Lisboa (1958-60); Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para realização de levantamento de equipamento urbano a nível Nacional (com Pitum Keil do Amaral 1962-64). Foi também Professor do ensino técnico e secundário (1960-64).

Trabalhou em várias empresas mantendo um conjunto alargado de projectos autónomos: trabalha na fábrica de loiça de esmalte Águia, Porto (1964-66); monumento ao poeta João de Barros, em colaboração com Francisco Keil do Amaral (1967-68); trabalha na ICESA, indústria de pré-fabricação pesada, onde faz design de equipamento urbano e de interiores (1968-74); trabalha no núcleo de Arte e de Arquitectura Industrial do INII (1970-71); organização da exposição na Casa de Serralves Design para a cidade: situações, artefactos e ideias, Porto, 1991 (em colaboração com Pitum Keil do Amaral); intervenções plásticas nas estações de Entre Campos (1994) e Santa Apolónia do Metropolitano de Lisboa; intervenções plásticas nas estações ferroviárias do Pragal (1998), Entrecampos (fachada sul; 1998) e Rossio, REFER; etc.

A partir de 1971 e durante mais de trinta anos é responsável pelo Gabinete de Design da CP, podendo destacar-se, por exemplo, a concepção do logotipo da empresa ou o design dos interiores e exteriores das automotoras da Série 2300 (1990-94). Este projeto, que constituiu a primeira grande experiência de design levada a cabo em material circulante ferroviário em Portugal, teve um considerável sucesso, tendo sido premiado com um prémio nacional de design a com o prémio especial do júri do European Community Design Prize (o primeiro prémio internacional de design recebido por uma companhia portuguesa).

Autor multifacetado, Santa-Bárbara tem-se dedicado a múltiplas áreas e actividades: design gráfico (arranjo gráfico de livros e outras publicações; capas de discos, nomeadamente de José Afonso e Fausto; símbolos, etc.); design de equipamento urbano, interiores e mobiliário; design industrial; desenho, pintura, cerâmica (azulejo), gravura, ilustração; escultura, medalhística.

Realizou as primeiras exposições individuais em 1964 (Galeria Divulgação, Porto; Galeria 111, Lisboa). Depois de um longo interregno, intensificou a práctica da pintura e voltou a expor individualmente com regularidade a partir de 1996. Participou em inúmeras mostras colectivas, de que podem destacar-se: Exposições Gerais de Artes Plásticas, SNBA, Lisboa (1953, 1954, 1955, 1956); 50 Artistas Independentes, SNBA, 1959; 1ª Exposição de Design Português, FIL, Lisboa, 1970; 20 Anos da Gravura, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1976; Design Lisboa 94, Centro Cultural de Belém, Lisboa, 1994; Exposição dos Galardoados com o Prémio Nacional de Design, Centro Português de Design, Lisboa, 1994; etc.

Sócio fundador e, a partir de 1978, presidente da Associação Portuguesa de Designers. Recebeu as seguintes distinções: Medalha de Mérito Municipal-1.º Grau,Ouro, Câmara Municipal de Sintra (2005); Medalha de Mérito-Grau Ouro, pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha (2009).

A 19 de Agosto de 2001, foi inaugurada na Biblioteca Nacional, em Lisboa, a sua exposição Vontades. Uma Leitura de Memorial do Convento. José Santa-Bárbara apresentou a sua leitura do romance de José Saramago. O escritor afirmou que graças aos desenhos do artista, conheceu finalmente os seus personagens.