Exposição "Falsos Paraísos", de Nuno Gaivoto
21.10.2017
Pág. 1 de 2
Exposição patente de 21 de Outubro a 19 de Novembro
Os “Falsos Paraísos” do Nuno Gaivoto
Nuno Gaivoto, 1975, estudou na ESAD Caldas da Rainha, quando esta ainda se chamava ESTGAD Caldas da Rainha.
Como uma grande parte dos alunos desta escola, da sua geração, a preocupação era manifestar uma ideia de contra cultura. Qualquer pensamento remoto, que conseguisse fazer desacreditar o que o "estabilishment" do mundo da arte, estivesse a tentar propagandiar. Em todo o lado se via um tipo de pintura que parecia suja, desorganizada, maltratada e efémera. Os suportes variavam entre madeiras recicladas, ou caixas de cartão espalmadas e papel cenário daquele mais baratinho, que a escola patrocinava. Alguns dos docentes, nomeadamente um pintor de Lisboa chamado Gonçalo Pena, e alguns dos alunos, como a Ana Teresa Antunes, ou o Francisco Vidal, ensaiavam uma espécie de entrada a pés juntos, com uma linguagem "street" num contexto "fine art". Stencil's de moscas, grafitadas por cima de retratos de barbie's ou figuras históricas, deliciosamente pintadas, revelavam em nós uma nova visão do estado da arte, divergente da ideia que o ensino secundario, que por ser povoada por professores oriundos das escolas de Belas Artes, nos ensinou.
O trabalho acumulava num pequeno espaço que a escola cedia a cada aluno, e quando se queria apresentar ocupavam-se os corredores ou lobbys, casas de banho ou espaços exteriores circundantes. Isto era a ESTGAD.
E passado vinte anos? O que esperar quando se visita o atelier de um destes pintores, que apesar de todos os contratempos típicos de qualquer autor, vai resistindo aquilo que mais artistas tem arrasado, o tempo?
Trabalho escasso? Suportes e tintas de segunda? Espaço reduzido?
Pois claro que é isto que se espera. Isto e muito mais. O nosso imaginário, está cheio deste tipo de ideia, pois é o que sucede com a grande maioria dos artistas que se encontram nesta situação.
Mas no atelier do Nuno não é nada disto. Entramos no seu apartamento, subimos ao andar de cima e é só pintura por todo o lado.
Águas-furtadas de pé direito alto, biblioteca rica, aparelhagem sonora dos anos 90 e uma colecção de obras de outros autores invejável. Espalhado por todo o atelier, de quarenta a cinquenta pinturas, todas ainda em progresso. Três ou quatro telas grandes, suportadas por cavaletes, telas redondas e ovais pouco menores que um metro encostadas às paredes e móveis, e uma imensidão de pequenos formatos, A4 e menor, a ocupar uma grande parte do chão. E tudo material de primeira.
São maioritariamente paisagens, desocupadas, sem vestígios seja do que for. Uma espécie de paraíso sem marcas de mão humana, ou falso paraíso onde apenas vemos a desolação e o efeito de erosão causado pelo tempo. Encontramos numa ou noutra pintura, uma ou outra figura, mas elas são irrelevantes, são adereços. A grande protagonista, de toda esta série de trabalhos, é a maneira com a luz transforma a cor na paisagem. Como a luz pode transformar um falso paraíso, naquilo que à primeira, nos parece um verdadeiro paraíso. Em quase todos os casos são paisagens distantes, onde a única certeza que temos, é que estamos a ver claramente uma linha do horizonte. Dali para cima é céu, nitidamente, dali para baixo não. Dali para baixo entra tudo o que se conseguir ver. As cores misturam-se suavemente, criando subtis contrastes, umas obra do acaso, outras fruto de uma mente sensível que é capaz de, com pequenas pinceladas, fazer aparecer cumes e montanhas, planícies e planaltos, escarpas e falésias, ou pequenas dunas, lá muito ao longe.
Irrompendo pelo trabalho adentro, e encobrindo grande parte da composição, estão sempre formas geométricas rígidas, que parecem não pertencer ali. São pintadas precisamente ao contrário do restante. Aqui não existe acaso ou sensibilidade tipo "tromp d'oil". Existe sim, linhas perfeitamente alinhadas de arrestas limpas e cobertura absoluta, quase como se estivesse a esconder o que por detrás já esteve. O resultado acaba por ser um estilo de pintura que nos arrebate e deslumbra, que nos desconcerta ou que nos tira o tapete debaixo dos pés, que nos tranquiliza por vezes e nos perturba outras vezes. Uma pintura que não se esgota, que por ser de execução expressiva, subjectiva no conteúdo se apresenta a cada olhar como uma imagem renovada.
Ou seja, faz aquilo que toda a boa pintura deve fazer, intriga.
Leonardo Rito 2017
Inauguração - 21 de Outubro, às 17h30
De 21 de Outubro a 19 de Novembro
Horário
De segunda a terça-feira
10h00 < 13h00 | 14h00 < 19h00
De quarta a sexta-feira
10h00 < 13h00 | 14h00 < 21h00
Sábado e domingo
11h00 < 18h00
Sábado e Domingo - Em dia de espetáculo à tarde
10h00 < 13h00 | Abre duas horas antes do espetáculo
Sábado e Domingo - Em dia de espetáculo à noite
10h00 < 13h00 | 15h00 até términus do espetáculo