A Estereoscopia Apareceu-me
A estereoscopia apareceu-me na forma de fotografias e desenhos nuns discos com um visor View Master, pelos meus 5-6 anos. Os minúsculos rectângulos coloridos dos discos transformavam-se através do visor em imagens grandes com solidez e presença. Os desenhos ainda eram mais mágicos, porque não eram reais, eram produto da fantasia e talento de alguém.
Mais tarde interessei-me pela criação de imagens estereoscópicas - em três dimensões, em 3D. Desenho, fotografia. Perguntas: como encontrar equipamentos, meios, informação sobre técnicas, autores com quem pudesse aprender? Na década de 80 do século XX ainda não havia Internet...
A pouco e pouco fui encontrando pessoas, máquinas fotográficas, técnicas, que me permitiram desenvolver um trabalho em contínua aprendizagem e descoberta. Descobri que em certos momentos toda a gente parece interessada em ver coisas em três dimensões, mas que rapidamente se esgota o interesse. Mais perto de nós: anos 50 do século XX, cinema e banda desenhada, anos 80, cinema, anos 90 quase só nos computadores como acessório dos jogos, e algum cinema em parques temáticos e o IMAX, depois de 2010, cinema, televisão, realidade virtual nos telemóveis. Normalmente por culpa da própria indústria que produz os conteúdos e os equipamentos: custos acrescidos em relação ao normal, má qualidade técnica ou estética, falta de acesso, aposta da indústria em outras tecnologias e abandono, acréscimo de dificuldade no uso para o utilizador - o que conduz ao cansaço e desistência. No entanto esses tempos servem para produzir equipamentos e informação que de outro modo não seriam desenvolvidos, e seriam escassos, mais caros e dispersos. A estereoscopia - como meio -, na actividade artística, permanece o lugar comum de poucos resistentes. :-) Eu sinto-me incluído...
Obrigado
Obrigado ao CCC, e obrigado a si por experimentar esta parte do meu mundo.
Caldas da Rainha, Maio de 2021
Filipe Rêgo
A Exposição é Constituída
A Exposição é constituída sobretudo por trabalhos dos últimos anos. Os fractais são também uma curiosidade já antiga. A primeira vez que vi fractais em três dimensões foi no princípio dos anos 90, processados por uma aplicação que corria sobre DOS, chamada Fractint. A dificuldade de usar o DOS afastou-me da possibilidade de desenvolver esse interesse. Só mais tarde encontrei aplicações que podia usar já sem os limites que os computadores me apresentavam na altura em que queria iniciar esse percurso. Os fractais, as animações dos fractais, a conversão para estéreo dos meus desenhos de adolescência, foram todos iniciados a partir de Março de 2020, com o primeiro confinamento. Os desenhos foram digitalizados e usei várias aplicações para trabalhá-los. As conversões dos quadros do Malhoa foram feitas em 2018 e 2019. A banda desenhada do personagem Jeff Hawke foi iniciada em 2016, e demorou mais de um ano a finalizar. Li a história numa edição do Mundo de Aventuras revista juvenil de Banda Desenhada, aos 7 ou 8 anos, e sempre a imaginei em três dimensões. Quando me voltei a lembrar dela achei que podia de facto vê-la como a tinha imaginado 50 anos antes. As fotografias, todas digitais, foram realizadas durante várias viagens. Apresento ainda desenhos meus e de outros autores, convertidos em 3 dimensões por volta de 1994, nessa altura usando tinta e papel. Na memória mantive os desenhos do View Master...