Skip to main content

Lançamento do Livro "PARA ONDE VOA O TEMPO...", de Jaime Costa

15.12.2013

domingo, 16:00



ÀS 16:00

Com apresentação do Maestro António Victorino D'Almeida

Jaime Costa é para mim um cinzelador de palavras e joga com elas, como se fossem ecos esparsos de uma música que vem de algures, talvez de longe, talvez de perto - porventura de ali mesmo… -, antes até de se encontrar o sentido que lhe está subjacente e que se vai transformando aos poucos numa mensagem poética coerente.

 

Tal como em muitas obras de Anton Webern, neste caso, também um cinzelador de sons, mesmo que a forma pareça antecipar-se ao conceito, as palavras já despoletam significados próprios antes de a frase se encontrar completada.

E essa frase pode em si mesma constituir todo um poema ou todo um trecho musical. 

Dir-se-ia que aquelas palavras vogam à tona de uma lagoa mansa e tranquila, mas que, uma vez agitada pela mais leve das brisas, poderá modificar-lhes todo o sentido. 

Contudo, depois de anulado esse ondular perturbador, a estrutura reorganiza-se e as ideias, os sentidos, as emoções, reagrupam-se de acordo com a ordem desejada pelo poeta.

Para quem, como eu, sempre conheceu o espírito concreto e objectivo do jornalista Jaime Costa, sonhador como pessoa, mas pragmático na busca de uma autenticidade sempre inequívoca nos seus escritos e atitudes, não poderá deixar de constituir motivo de algum espanto - e não menor fascínio - o confronto com esta forma etérea de abordar a poesia, através da qual o poeta cria atmosferas oníricas tais que mais parece ter sido um sonho a memória imediata daquilo que acabámos de ler.

Contudo, as palavras não se dispersam com ondulação de quaisquer aragens que possam varrer, mesmo ao de leve, a superfície do lago - que é afinal a nossa própria consciência… - e recuperam sempre a forma da ideia que está subjacente a cada poema, se bem que este possa resumir-se a uma única imagem ou, no caso da música de Webern, a um pequeno grupo de sons e pausas…

Pergunta-se muitas vezes o que significa a música, talvez a mais abstracta das artes, e a poesia de Jaime Costa dá-nos, de forma peculiar, a sua resposta:

A música, tal como esta poesia, faz-se de conceitos que se pressentem - mais até do que se sentem em termos físicos ou sensoriais -, e que vogam, e pairam à superfície do Belo, até que a acuidade do auditor ou do leitor, num lapso iluminado, os consiga unir e decifrar sob a forma de uma ideia. 

Uma ideia que efectivamente tem de lá estar. E está, pois o jornalista Jaime Costa, mesmo quando poeta, nunca deixa por isso de ser rigoroso na análise das emoções.

António Victorino D’Almeida