A Antígona de Carson não apresenta qualquer respeito por um poder degenerado em totalitarismo — quando é condenada nem sequer tenta argumentar o seu caso como faz no texto clássico, o rei já não merece da sua parte o mínimo respeito, a sua recusa da injustiça é tão obstinada que poderíamos pensar que enlouqueceu, distanciando-se radicalmente da personagem sofocliana. A tragédia grega é de tal forma exacerbada que já não há ideia de futuro, há apenas o arrependimento de não se ter aprendido mais cedo, de não se ter agido mais cedo. Às vezes é mesmo tarde demais.
Autor: Anne Carson | Tradução: Isabel Lopes |Encenação: Fernando Mora Ramos |Cenografia: José Carlos Faria | Interpretação: Beatriz Antunes, Carlos Borges, Fábio Costa, Henrique Manuel Bento Fialho, Isabel Lopes, João Costa, Mafalda Taveira, Nuno Machado, Vítor M de Sousa