O Despertar da Primavera

Numa localidade alemã no final do sec XIX, um grupo de adolescentes desperta para a sexualidade. As implicações desta tomada de consciência são dolorosas e trágicas no seio duma sociedade conservadora, moralista e patriarcal. A família e a escola, por um lado, os amigos, a natureza e o corpo por outro, compõem os dois planos duma oposição fundamental no enredo da peça de Frank Wedekind.

Wendla faz 14 anos e não suporta ter de continuar a vestir roupas de criança que a mãe lhe quer impingir, como que a impedi-la de crescer. Melchior e Moritz divagam pela natureza e sentem o pulsar dos corpos e o despontar duma curiosidade erótica, ao mesmo tempo que as obrigações da escola os absorvem. Martha revela às amigas as terríveis sevícias a que os pais a submetem. Wendla pede a Melchior que lhe bata para partilhar do sofrimento de Martha. Moritz em queda vertiginosa, incapaz de corresponder às expectativas dos pais na escola, excede os seus limites físicos e mentais que o levarão ao suicídio. A evolução na proximidade entre Wendla e Melchior resulta num sobressalto de possessão e acontece o sexo sem consentimento. O crime, a culpa. A expulsão de Melchior da escola, a vergonha do pai, a incompreensão e resignação da mãe. A gravidez de Wendla e o aborto forçado que a leva à morte. A fuga de Melchior da casa de correção e o seu salvamento "in extremis" da morte.

Texto percursor do teatro expressionista que florescerá após a Primeira Grande Guerra. Um teatro que expõe temas, que conceptualiza a realidade, que não se restringe ao princípio da verosimilhança e da identificação do herói. Nele estão projectados diferentes pontos de vista sobre uma sociedade, estão «estampados» os caracteres e os vícios, a luz e a sombra recortadas da realidade.